Hoje, dia 24 de março, completa um mês da morte do Marcio – Ehrlich.
Pensei em como a Janela poderia homenageá-lo. E, lembrando de uma das nossas últimas conversas, decidi escrever esse texto, que ele me pediu para escrever e eu prometi fazer. Fácil não é, ao contrário, esse mês passou voando e eu ainda me pego indo até o escritório dele para falar alguma coisa, onde encontro a Cookie, a nossa cocker que ele tanto amava, sentada ao lado da cadeira dele, todos os dias, depois do café da manhã. Marcio era uma pessoa de hábitos cotidianos dos quais ele não abria mão, um deles era justamente esse, de ir depois do café da manhã, diariamente, com sua garrafa de água de coco pro escritório dele, abrir o potinho de castanhas, pegar três, comer duas e dar uma para a Cookie, que depois disso se deitava ali por algum tempo. Confesso que me entristece vê-la ali, ao lado da cadeira vazia, imóvel. Dia desses, quis tirar a teima e fui até lá, peguei uma castanha e dei para ela. Ela não quis, e ali permaneceu.
Eu tinha certeza de que isso aconteceria assim, cães gostam dos petiscos, de brinquedos, mas o amor deles é desinteressado, é só amor mesmo. Como o da Cookie por ele e o dele por ela. Vou deixar os vídeos, um que ele gravou quando participava de um programa para a Rádio Tupi, que também ia ao ar em uma emissora de TV, e outro durante uma live que fizemos, em 2021, com a agência Danza – aos 46’52”. Ambos mostram a alegria que ele sentia com ela por perto, é autoexplicativo.
Mas voltando à falta que ele tem feito nesse mês que passou, eu preciso explicar que eu e Marcio, além de parceiros aqui na Janela, éramos casados há nove anos e quatro meses. Não é modo de dizer, não, convivemos 24 horas nestes nove anos e quatro meses. Ou seja, se para você que tinha o hábito de ler os textos dele aqui, já faz falta, imagina para mim, numa intensidade como essa!
Conviver com alguém 24 horas por dia – com breves intervalos de compromissos rápidos – por quase uma década, não é fácil para ninguém. Ainda mais para mim e para o Marcio, intensos por natureza, determinados por personalidade e objetivos por profissão. E foi justamente a profissão que aparou arestas e nos tornou tão próximos e tão parceiros.
Marcio era ateu, acreditava em nada. Eu sou católica, daquelas que não frequentam missa, embora tenha sido batizada por um frade que era meu tio e tivesse outro que foi um dos bispos mais conhecidos do Brasil, Dom José Távora, que ao lado de Dom Hélder Câmara, deu novos rumos ao nordeste brasileiro. Mas apesar de ateu, Marcio, ao longo desses anos, passou a olhar para a minha fé com outros olhos. Durante o período em que a saúde dele piorou absurdamente, ele sempre pedia para eu rezar por ele. E assim fiz.
Eu também acabei me rendendo a alguns dos hábitos dele. Um, em especial, o de todo dia 29 de cada mês, comer nhoque com uma nota de um dólar embaixo do prato. Fazíamos isso todos os meses, inclusive quando ele esteve internado – foi liberado para comer um pouquinho apenas. Curiosamente, o fevereiro em que ele morreu não tinha o dia 29…
Ele viveu 74 anos da mais pura intensidade. Não havia quem, neste mundo, o demovesse de alguma decisão se ele assim não quisesse. Era mais teimoso do que a própria teimosia. Questionava os médicos, talvez pela medicina que cursou 50 anos atrás, totalmente diferente de hoje. Mas até nisso teve sorte, o clínico que escolheu, um anjo chamado Rafael Pitanguy, além de não se deixar impressionar pela insistência do Marcio, tinha com ele uma relação especial. Foi ele quem nos deu as mãos nesses 54 inacreditáveis dias – e antes por quase um ano – da vida do Marcio. Éramos apenas Marcio e eu, amparados pelo Rafael, por uma equipe médica, contra doenças que surgiam do nada. Aprendemos a lidar com todas as dificuldades. Não vencemos, mas lutamos, não nos entregamos.
Teimoso como era, montou um escritório em plena UCI do São Lucas. Trabalhava de lá, apesar de cansado. Combinamos que ele faria alguma matéria quando conseguisse e eu faria o resto. Já há algum tempo, Marcio me entregou a Janela sem reservas e pediu que eu cuidasse de tudo. Assim eu fiz. Apesar da falta que ele faz, sei que me preparou para eu chegar até aqui. Ele sempre foi extremamente centralizador, nada fugia dos olhos dele, tinha tudo sob as suas asas, sob o seu domínio. Já há alguns muitos anos, nos dividíamos entre a Janela e o Prêmio Colunistas.
Em comum, profissionalmente, tínhamos o amor pelo jornalismo e o orgulho de fazer um site com notícias exclusivas, texto de primeira – tão diferente do português ruim de hoje praticado por aí -, e avessos ao ‘copia e cola’. Aprendi muito com ele, principalmente, o amor que ele sempre teve pela Janela e pelo Colunistas. Dia desses, li em algum lugar, alguém defini-lo como ‘A Voz do Colunistas’, e ele sempre foi. Lutava com uma determinação por essa premiação, que só o tanto de vida que ele dedicou a cada edição explica.
Tenho certeza de que ele continua tomando conta de tudo, de olho na Janela, no Colunistas, pronto para reclamar de alguma coisa.
O que dizer da saudade? Que agradeço ter estado ao lado dele como eu – sempre – estive. Quando ele mais precisou. Nossa vida jamais foi de hipocrisia, jamais vivemos aparentemente juntos. Seria contra nossa própria maneira de ser. Vivemos intensamente juntos, como sempre fomos.
Seguir em frente não é tarefa das mais fáceis, mas é a única opção. Marcio era o barulho em forma de gente, onde estava, era fácil saber. Ele ocupava a casa inteira com seu tom de voz alto, sua agitação…o silêncio amplia a sua ausência, embora eu tenha a certeza de que ele vai estar sempre por perto.
Ame quem está perto de você, cuide, trate bem, beije, abrace. Deixe para se arrepender, se isso vier a acontecer de ter feito o – seu – melhor. Em algum momento essa pessoa poderá não estar mais aqui para isso. Esteja ao lado de quem precisa de você. Eu tive a sorte de estar e, hoje, olhar para trás e não ter qualquer arrependimento, só saudade.
Lindo texto, Renata. Força e serenidade!!
Um abraço carinhoso.
Coisa linda esse texto! Emocionante demais!
Lindo texto. Uma homenagem verdadeira ao querido e saudoso Márcio.
Lindo! Força, Fé e Luz para você Renata!
Texto emocionante! Revi muito o Márcio em minhas memórias ao lê-lo.
Força e bola prá frente. Abraço, Saúde e Paz!
Lindo texto, Renata. O Marcio era especial.
Belo texto, belo sentimento.
Lindo texto, Renata!
Cássia, sempre tão querida, muito obrigada!
E eu chorando aqui. Meu amigo. Amigo de todos nós
Texto lindo de ler ❤️🌹
Obrigada, Cristina.
Renata, passou voando esse mês. Imagino a falta que vc sente… Ele te tinha como parceira, companheira de trabalho e de vida! Lembro quando ele comentou que vcs iriam casar, ficar juntos. Pensei (e disse pra ele kkk) : uau, que coragem a dela! O Marcio não era um cara fácil, mas sempre soube reconhecer o teu valor, pelo menos pra mim. Força aí! Estou sempre aqui, com ouvidos, ombros e coração a teu dispor.
Rejane, querida, obrigada pelo “colo”! Bom ler isso vindo de você!
Renata, lindo depoimento. Me emocionei com a Cookie também. É muito duro esses primeiros meses, mas você vai superar honrando a
Memória dele através do trabalho do que ele mais gostava. Força, aí!!
Lindo Renata.
Obrigada, Hamdan!
Tenho certeza, Renatinha, de que ele escolheu você para manter a Voz do Colunistas viva, audível e respeitada. Estamos todos juntos nessa saudade do Marcio e de sua luta constante pela valorização da nossa atividade e, acima de tudo, da nossa atividade no Rio.
Toninho, querido, eu também acredito que ele me conduziu até aqui. Devagar, aos poucos, com ele ao lado, me preparando pro momento em que não estivesse mais.
A vida está agindo ao seu redor e você acabou de completar um ciclo, uma etapa, sincronicidades. Posso dizer que você está, mais do que nunca, pronta para o próximo desafio. Vai lá e chuta a porta, a janela, deixa aberta. O ar fresco vai entrar por ela.
Lindo texto.
A presença física se vai mas ficam as memórias, o amor e a inspiração para seguir em frente.